Uma ideia terrível que se tornou mais tarde a imagem de marca de Philip K. Dick surge pela primeira vez num conto do autor americano, chamado "O Impostor", publicado em 1953 na revista de ficção científica Astounding. Trata-se da história de alguém a quem acusam de ser uma máquina que transporta uma bomba e que tem a memória de um cientista, entretanto morto e substituído. E esta máquina tem todas as emoções da sua vítima e está programada para explodir ao dizer certa frase. No final, constatamos que a frase detonadora é a constatação da não humanidade, algo que só ele pode afirmar. O pior é que o andróide ama e tem medo e quer sobreviver. Ele é o cientista e julga que todos os que o perseguem se enganam, ao acharem que é uma máquina a tentar destruir a Terra.
A ideia foi mais tarde desenvolvida para múltiplas personagens cuja memória manipulada cria uma profunda paranóia. O mundo vira-se contra o indivíduo e este começa a duvidar do seu passado. A realidade é formada de múltiplos pontos de vista, todos eles ambíguos, como num caleidoscópio cujos efeitos de luz transformam o que era suposto ser a verdade numa assustadora incerteza.
O curioso é que esta ideia fantástica, que a literatura desenvolvera já na década de 50, mas num gueto de género, só 30 anos mais tarde entrou verdadeiramente na cultura popular, através de filmes inspirados na obra de K. Dick.
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