Os donos do Vesuvio recordam apenas parte da história: Depois da leitura de "Dharma Bums/Os Vagabundos da Verdade", Henry Miller fez saber por amigos comuns a Jack Kerouac que gostaria de convidá-lo para jantar.
O encontro foi preparado por Miller ao milímetro. Era uma ocasião rara para esse momento social em jeito de tertúlia, durante a qual, como é dever do Mestre, passaria o seu estandarte ao jovem em ascensão. Kerouac vivia então dias de extremo mediatismo, lidando muito mal aliás com o facto. Bebia como se não temesse que o fígado lhe rebentasse, o que acabaria literalmente por acontecer a 21 de Outubro de 1969.
Mas agora estávamos em 1960, nessa tarde em que Jack decide haver tempo para uma conversa ou duas no Vesuvio antes da viagem até à casa de Miller em Big Sur. A conversa ou duas transmuta-se em duas bebidas, as duas em tantas que nem os homens do Vesuvio registaram a conta. De meia em meia-hora trocam-se chamadas telefónicas entre Jack e um amigo dos que o aguardavam para jantar: "Estou quase a sair", "É mesmo o último copo", "Ainda é cedo, apanho um táxi e estou aí em minutos". Kerouac dizia aquilo que dizem todos os alcoólicos. O mesmo que outro Jack antes dele, de apelido London, levado ao suicídio por aquele demónio com corpo de centeio a que chamava John Barleycorn.
Regressemos a Big Sur. O jantar termina sem o autor de "On the Road/Pela Estrada Fora". Miller teve a sua festa estragada mas Jack, uma vez fechada a porta do Vesuvio, insiste em honrar o seu compromisso. Talvez tenha perdido o sentido das horas. Talvez estivesse nas tintas para que horas seriam mas uma coisa é certa: Só por pura serendipidade o táxi encontra numa noite escura como breu a casa de Miller e larga Kerouac frente ao relvado. Relvado esse onde cai ou decide deitar-se, as opiniões divergem. Onde todos concordam é que, na manhã seguinte, ainda lá estava deitado.
Será de coisas como esta que surge a ideia de que há génios dentro das garrafas?
ResponderEliminarSe me perguntassem, eu diria que Miller e Kerouak não combinam. Daria para escrever um livro sobre isto.
ResponderEliminarEntão não daria? :) Abraço
ResponderEliminarA fellatio que o Kerouac fez ao Vidal em Nova Iorque, descrita em Palimpsest, podia servir-te de adenda.
ResponderEliminarEsta história passa-se na Costa Oeste, senhor! Nunca ouviste falar em coerência narrativa? :)
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