sábado, 21 de agosto de 2010

O peru de Salinger


A retrete utilizada para os seus chichis e cocós pelo reclusivo J. D. Salinger está à venda no portal de leilões eBay por um milhão de dólares. A um olhar menos atento do leitor ou meu, a dita peça de porcelana parecerá igual àquela que temos na nossa própria casa, mas o vendedor promete um certificado de autenticidade incluindo número de série. 
Desde que fugiu da ribalta e se encafuou na localidade de Cornich onde viveu cerca de 50 anos, o autor desse livro tão do agrado dos fanáticos da conspiração que é "The Catcher in the Rye" foi envolvendo os habitantes da localidade na sua teia protectora. Quando o jornalista ou a fã indesejados chegavam com perguntas e pedidos de indicações, eram desde logo confrontados com o silêncio ou, na melhor das hipóteses, recomendações bem intencionadas para que dessem meia volta e desistissem da sua missão.
Tom Leonard, no entanto, não desistiu e terá mesmo registado as últimas palavras de Salinger proferidas a um jornalista, quando deu por ele do outro lado da janela de sua casa: "Oh não!".
A interjeição foi tudo o que Tom teve direito a ouvir do autor, mas logo compensou esse facto no artigo que escreveria com a história que lhe contou um frequentador da Igreja Unitária Universalista, recheada de úteis conselhos sobre o que fazer se porventura encontrasse Salinger num dos jantares de peru mensais da sua congregação, durante os quais o escritor dava várias vezes um ar da sua graça:
«Ninguém é suposto dar a entender que sabe que ele está ali». «Trate-o como se fosse apenas outra pessoa normal». «E não fale com ele a não ser que ele lhe dirija a palavra primeiro. Não gosta de conversa de chacha».  
Gosto de imaginar o esforço que J.D. faria para esquecer o seu misantropismo e percorrer os cerca de 15Km entre Cornich e a Igreja, apesar das sérias hipóteses de ser incomodado por um jornalista perseverante como Leonard. Devia pelar-se mesmo a sério por uma perna de perú. 

   

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