Tolerância zero para o meu mau-feitio.
Tolerância zero para este calor dos infernos, a noite de insónia, o sufoco, a falta de ar e o batuque que não me deixou dormir, mais o pijama banhado de suor. Sim, porque eu sou um daqueles que também dormem de pijama e que, quando acordam, o dobram cuidadosamente, para poderem simular a sua vida insuportavelmente perfeita.
Tolerância zero para os pomposos e as mulheres bonitas que sorriem a todos os homens feios, menos a mim; detesto os feios e os gordos como eu, mas acima de tudo tenho desprezo pelos que são graciosos, os magros e bronzeados, os nadadores-salvadores a quem as mulheres formosas gostariam de poder dirigir um sorriso, embora não o façam por timidez.
Já falei dos pomposos, que detesto, mas também não suporto aquelas pessoas espaventosas sempre com palavras caras na ponta da língua e desenvoltura perante as câmaras de tv, e as imponências flatulentas e as bazófias ventosas, cheios de falta de ideias e de um género de vazio do pensamento que mais parece um estômago à beira de explodir; gente sem fantasia, à excepção da fatiota que não joga, própria para fracas figuras que se presumem mentes caricatas e bem reflectidas no engenho da estupidez.
Tolerância zero, pois, para a banha lassa, o restaurante refrigerado e rumoroso, incluindo a comida a cheirar a fritos. Detesto sorrisos a colagénio, os chefes e os chefes dos chefes, a fadiga gasta e os nervos frouxos. O pedante que palita os dentes com sapiência.
Estou de tolerância zero para o medo e também para o cagaço tépido e o simples receio medíocre. Não há mais lugar para a complacência, nem sequer para a paciência, o que me deixa sem tolerância para maus-feitios insuportáveis, como é o meu.
Mais um para os favoritos. Leio-o sempre com gosto, mesmo quando está de mau humor. Ou especialmente nessas ocasiões. Não me apetece decidir.
ResponderEliminarAgradeço muito o comentário, Luís. Um prazer tê-lo por aqui...
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