Sobre a planície paira a sombra das nuvens de tempestade. As maquinarias agrícolas esperam, indolentes, que o solo possa suportar o seu peso.
A colheita está perdida, diz o campones.
Nada a fazer, acrecenta o outro homem.
Estao ambos sentados numa mesa melancólica do café de província. Olham o estranho (que sou eu) que entrou para pedir uma bebida e que iniciou uma conversa banal, sem se interessar verdadeiramente pelas suas vidas. Só queria evitar adormecer ao volante e parei ali, como podia ter parado noutro sítio qualquer.
Eles sabem que as perguntas sao para matar tempo, mas falam sobre a chuva de verao e eu penso nos pantanos que havia outrora em toda esta zona. As terras agrícolas foram conquistadas a insalubres territórios pantanosos onde se escondiam os fugitivos, como eu.
A drenagem é mais lenta na planície, digo, sempre a fazer conversa.
A gravidade joga contra o agricultor, acrescento.
Um dos homens faz um gesto de conteúdo incerto.
A bebida doce acordou-me. Pago, despeco-me dos dois homens com quem falei. Eles saúdam-me sem alegria e penso neles como figuras de um quadro antigo: dois camponeses a beberem cerveja tépida numa taberna de aldeia. A sala escura, os tons de pastel difuso, a janela a formar uma cruz, que ilumina parte da mesa e morre na parede ao fundo...
E que venha depressa o sol, ainda digo, já na porta.
Cá fora, está um calor abafado. As nuvens engrossaram e a brisa acelera. Caminho lentamente até ao carro e, dentro, espero um bocado, antes de accionar o motor. A minha fuga nao tem pressa. A bebida doce apenas suavizou um pouco daquele peso que já sentia no cérebro, do calor abafado, da electricidade no ar e da estranha humidade. Os meus pensamentos adormecidos parecem uma seara ensopada. E vai chover ainda mais. Em breve, haverá mais pantanos onde eu me possa esconder de mim próprio.
Lajos Kormanyos
(Escrito num teclado estrangeiro e traduzido do húngaro por Luís Naves)
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