Num dos seus apontamentos, Erik Satie recorda os jantares em casa de Claude Debussy. Debussy preparava ele mesmo e em segredo deliciosos ovos e costeletas de carneiro que acompanhavam com um bordéus branco e a conversa de amigos de longa data.
Leio neste momento "A Armadilha de Medusa" mas o pensamento foge até ao número 56 da Rue Cardinet, no 17e Arrondissement. A rua atravessa o Boulevard Pereire, onde dormi umas noites em anos que já lá vão. Quero acreditar que passei junto à janela da mesma sala onde - em 1902 - Satie e Debussy comeram tantas vezes juntos. Claude partilhando animadamente o trabalho com "Pelléas e Mélisande", que estrearia no ano seguinte. Erik falando das suas "Três Peças em Forma de Pera". Ou de como o velho deveria ceder o lugar ao novo, entre insultos à Academia.
Em 1905, Satie escreveria: «Sou um artista pobre que vive cheio de dificuldades». Mas por maiores que fossem não acredito que os ovos e costeletas do amigo lhe tenham alguma vez faltado. Ou esse bordéus que descreveu como «delicioso, com efeitos impressionantes e que nos dispunham, como era desejável, às alegrias da amizade».
(Na imagem, "Satie chez Debussy". Fotografia tirada por Igor Stravinsky)
gostei do espaço.
ResponderEliminarObrigado Daniel. Abraço
ResponderEliminaraqui do Brasil admiro o seu blog, graças à Eric Satie...
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