Em Origem das Espécies, Francisco José Viegas lembra o recente aniversário do escritor americano Ray Bradbury. O autor fez 90 anos e foi citado como sendo tecnofóbico (algo ridicularizado no texto aqui linkado).
Para mim, Bradbury é a memória do fantástico filme de François Truffaut, Fahrenheit 451, de 1966, analisado aqui. Gosto de muitos dos seus contos, alguns de ficção científica, outros de fantasia, mais dos primeiros. Este A Sound of Thunder é particularmente impressionante. Também resultou num filme recente. Bradbury é um poeta e um sonhador, o mesmo que se pode dizer de Truffaut. Ele demonstra que o género literário não tem de ser um gueto de especialização. A ficção científica (FC) é essencialmente uma meditação sobre o presente, em demonstração por absurdo.
Um amigo dizia-me que a FC é de direita e o policial de esquerda. Apesar das generalizações tenderem a exageros grotescos, a observação é curiosa. Talvez porque as utopias têm a ver com a liberdade e as distopias com a sua ausência, a FC tende a ser bastante política. Na parte do policial já não concordo com a tese, pois vejo mais como um género pouco interessado em temas políticos.
Enfim, podia acrescentar outros elementos: a crítica ao excesso de tecnologia, por exemplo, parece ser um sábio alerta de Bradbury. Estamos tão embrenhados no mundo digital, tão distraídos com os nossos brinquedos, que progressivamente vamos perdendo a atenção pelo que nos rodeia.
A ciência já discute os efeitos deste tsunami electrónico no cérebro humano. As distracções constantes, a ansiedade relacionada com a expectativa de informação inútil impedem o pensamento profundo essencial para a poesia.
Por enquanto é uma teoria, mas está a ser testada: as máquinas podem estar a matar a poesia.
É só uma sugestão, mas... matemos as máquinas.
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