terça-feira, 12 de julho de 2011

Dorme sossegada


Trouxe-te uma pêra, das que tu gostas, mãe, olha. Apanhei-a agora no quintal, vê como cheira bem. Não, que ideia, não me encarrapitei na árvore. Estava logo ali na ponta de um ramo, só precisei de esticar o braço. Está bem, fica para mais logo, depois descasco-a, quando tiveres vontade. Vou deixá-la ao pé de ti, na mesa de cabeceira, para lhe sentires o aroma fresco.
Pareces-me melhor hoje, gosto desse teu sorriso.
Está sol. Quando te sentires com mais forças, ponho a tua cadeira lá fora, junto à porta. Ficamos as duas no fresco da tarde, a olhar as árvores no quintal, tão cheirosas da fruta madura, e os pássaros a debicar as ameixas e as cerejas doces.
Tens os pés frios? Olha, vou abrir um pouco as portadas da janela para entrar o sol, e arranjo-te um saco de água quente, para ficares mais confortável.
Não? Está bem, não saio daqui. Não te preocupes. Deito-me um bocadinho ao teu lado. Vê se descansas, não fales agora. Não, não preciso de nada. Nem o Artur, nem a Xana. Eles vêm cá depois, não devem tardar. Ficamos só assim, as duas. Dorme um pouco. E tenta descansar. Não te preocupes, não saio daqui. Descansa.
Já não tens frio? Que bom. Dorme sossegada, mãe.
Descansa.
Descansa em paz.

4 comentários:

  1. Lindo, doce, derradeiro, e até calmo! A arte de dizer (quase) tudo em poucas linhas. Parabéns.

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  2. Obrigada, as tuas palavras dão-me coragem. Um beijinho

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  3. Também gostei muito, Menazita.
    (e esta é a terceira vez que tento deixar aqui este comentário..:()

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