quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Escrita jornalística


Muitas pessoas pensam que a literatura tem semelhanças à escrita de jornal, mas julgo que as diferenças são imensas.
O jornalismo é uma amálgama de pontos de vista e tenta chegar a uma visão do mundo.
A literatura é geralmente um ponto de vista que tenta alcançar a essência do mundo.
A verdade embelezada ou distorcida não cabe no jornalismo, o qual não suporta o mínimo desvio dos factos. A literatura é exactamente o inverso e não tolera a cópia noticiosa da realidade.
Escrever num jornal equivale a aplicar uma técnica simples; aliás, a simplicidade é requerida. Jornalismo é trabalho oficinal, para operários da palavra que funcionam em equipa e hierarquia; o texto jornalístico relata-nos a experiência efémera, com tempo marcado e em linguagem que estimula o lugar-comum, a trivialidade e até a forma burocrática. Apesar de tudo, o jornal devia ser como a aula de pintura perante o seu modelo, nunca havendo dois relatos iguais. 

A literatura é solitária, incómoda, de preferência incompreendida. Pode ser mais livre no vocabulário, mas também na forma, no ritmo e na autenticidade subjectiva do texto. A verdade está na aproximação ao real, mas não na sua reprodução fiel. O texto literário está cheio de emoções e não tem função, não pretende ensinar nem convencer. Muito menos informar.

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