«Existem apenas duas coisas: Amor, todos os tipos de amor, com raparigas bonitas, e a música de New Orleans ou Duke Ellington. Tudo o resto deveria desaparecer, porque tudo o resto é feio».
Foi esta a epígrafe escolhida por Boris Vian para “A Espuma dos Dias”, livro que Alexandra Lencastre em entrevista hoje publicada na revista Única afirma reler todos os anos.
Imagino Alexandra no lugar de Chloé, essa rapariga bonita, superlativamente amada mas condenada à morte por um nenúfar parasita no pulmão, que lentamente lhe vai sorvendo toda a água do corpo e lhe corrói os tecidos.
"A Espuma dos Dias" foi dedicado por Vian à sua primeira mulher, Michelle Léglise, que nesta fotografia surge ao lado de Simone de Beauvoir. Junto de Vian está Jean-Paul Sartre, rebaptizado no livro como Jean-Paul Partre e cujos fãs são satirizados pelo seguidismo acrítico.
É uma obra que descreve, para além da mulher que atrofia rodeada de flores e que o amor dos outros é incapaz de salvar, uma casa, um lar, que progressivamente também reduz o espaço e asfixia quem nele vive.
É um livro que merece bem ser relido. Mas quem o lê todos os anos, como Alexandra o faz, não pode deixar de ser alguém que sofre. Por mais amor ou flores que tenha à sua volta.
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