Honoré de Balzac escreveu a novela O Coronel Chabert em 1832 e terá sido um pouco à pressa, pois há minúsculos problemas de construção e curiosos erros factuais. Pouco importa, a obra antecipa temas que o movimento modernista do século XX iria explorar de forma brutal, sobretudo a ideia da inutilidade da luta do indivíduo contra o desumanizado sistema burocrático. O facto de ter sido por duas vezes adaptado ao cinema não é alheio à modernidade do texto.
Se por vezes Balzac não resiste a certo preto e branco na caracterização das personagens, como era típico da literatura do seu tempo, o facto é que neste clássico pouco romântico as fronteiras entre o bem e o mal estão esbatidas. A narrativa começa com uma cena (extensa) que nos mostra o cinismo dos funcionários de um cartório e ali surge em pessoa, envolto numa dramática e suja capa, a figura patética do coronel Chabert, morto famosamente na batalha de Eylau, dez anos antes.
A extraordinária aventura do herói é contada pelo próprio, no segundo momento do texto. Muito em resumo, e com pormenores escabrosos, trata-se de um militar dado como morto e lançado em coma à vala comum, de onde escapa com ajuda de um braço decepado, que utiliza como alavanca. Está nu, gravemente ferido na cabeça, perdeu parcialmente a memória. Salvo por camponeses, vai parar a um hospital na Alemanha, de onde emerge como um fantasma, após muitas peripécias e misérias. Obviamente, ninguém acredita na sua história.
Agora, que o mundo se refez sem ele, o coronel Chabert tenta recuperar a identidade e parte da fortuna. A mulher casou com outro, a França foi derrotada, os heróis de Napoleão são desprezados. Mais importante ainda, a lei criou obstáculos insuperáveis e o pobre do coronel tem de fazer uma escolha entre o manicómio e a desistência.
Balzac cria uma situação sem saída e o fim trágico acaba por ser uma crítica política a uma sociedade sem gratidão, onde impera a mediocridade, a intriga e o cálculo mesquinho. Ali não há lugar para a honra e a máquina do Estado pode ser tão opressora como a pobreza. Triunfa a gente mais pequenina e não existe espaço para os atropelados da História. “Os horrores que os romancistas julgam inventar estão todos, afinal, abaixo da verdade” escreve Honoré de Balzac no final deste belo livro, que tão bem antecipa o mundo contemporâneo, onde a injustiça abre o caminho ao oportunismo e ao poder do dinheiro.
Agora, que o mundo se refez sem ele, o coronel Chabert tenta recuperar a identidade e parte da fortuna. A mulher casou com outro, a França foi derrotada, os heróis de Napoleão são desprezados. Mais importante ainda, a lei criou obstáculos insuperáveis e o pobre do coronel tem de fazer uma escolha entre o manicómio e a desistência.
Balzac cria uma situação sem saída e o fim trágico acaba por ser uma crítica política a uma sociedade sem gratidão, onde impera a mediocridade, a intriga e o cálculo mesquinho. Ali não há lugar para a honra e a máquina do Estado pode ser tão opressora como a pobreza. Triunfa a gente mais pequenina e não existe espaço para os atropelados da História. “Os horrores que os romancistas julgam inventar estão todos, afinal, abaixo da verdade” escreve Honoré de Balzac no final deste belo livro, que tão bem antecipa o mundo contemporâneo, onde a injustiça abre o caminho ao oportunismo e ao poder do dinheiro.
O Coronel Chabert está disponível em português, numa edição Assírio e Alvim, em magnífica tradução de Abílio Fernandes, com úteis notas sobre o contexto da obra.
Sintético e preciso, como é preciso. Fiquei freguês; venha o próximo.
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