quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Chegamos a gostar de pessoas que não conhecemos

Um email. Agradeço o convite, ignoro condicionantes de tempo, claro que aceito escrever no Emoções. Conheço todos, de outras paragens blóguicas, excepto o Pedro Beça Múrias. Investigo: há posts recentes, entre um poema de Teixeira de Pascoaes e uma desmusa de olhar hostil. Há o Facebook, onde topo com um sorriso ao longe, uma cabeleira laranja, uma menina às cavalitas. Fico com uma ideia, fico a gostar da ideia com que fico, sigo em frente.
É uma ideia low profile, não se impõe, deambula por ali, bolhinha translúcida e livre. As bolhinhas são as imagens, ocupando poucos bits, de pessoas que sabemos mas não conhecemos.
Sem tempo para abraçarmos novos outros com o espaço de antigamente (dizem..), é contudo possível circularmos por aí com uma ou duas bolhinhas dentro de nós. Ou mesmo, sem levantar suspeitas, vivermos com um interior enfeitado de bolhinhas pé-de-seda , vogando algures num limbo onde o cérebro não magica e o coração faz contas. Uma espécie de efervescência zen.
Falo por mim. O Pedro BM era uma das minhas bolhinhas. Dele, que amigos comuns me descreveram como um amor de pessoa, eu não cheguei a saber se tinha por hábito passear em shoppings desertos ao início da manhã, se era homem para gostar de rosas a cheirar a chá, se embirrava com o cinismo de alguns jurados de televisão ou enjoava no eléctrico para a Graça. Dele só tive a respectiva bolhinha ideal.
Quando finalmente se conhece alguém, sucede a bolha em causa romper-se face à realidade, a qual, com sorte, fica a ganhar-lhe. Outras vezes, ao medirem-se frente a frente, bolha e pessoa, fantasia e realidade fundem-se, anulam-se mutuamente e nunca mais se ouve falar delas. Outras vezes ainda, uma bolhinha desperta na brutalidade de uma notícia, incha na certeza de que nenhuma realidade tomará um dia o seu lugar - e dissipa-se então num texto inábil, numa veleidade informe que, por bem intencionada, espera não ofender ninguém.
Porque, se é verdade que por vezes não conhecemos suficientemente bem as pessoas de quem gostamos, também chegamos a gostar de pessoas que não conhecemos.

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