Há cerca de dois meses desci a 300 metros de profundidade, sessenta abaixo do nível do mar, na mina de sal gema de Loulé.
Foi uma experiência única. A dada altura entrei sozinho num longo e escuro túnel, e dei comigo a pensar: “E se me perder? Se a única luz ao fundo do túnel for a minha? Alguém me encontrará?
Não é esquisito sermos nós a única luz num túnel?
Não estamos habituados a isso, não é? A apoiarmo-nos apenas no que a nossa vista alcança...
Pois bem, foi ali, onde o sol não entra, que se fez alguma luz sobre muitas dúvidas que tenho quanto ao meu futuro. Não há que ter medo. Um dia a luz chegará.
Há alturas na vida em que temos medo ao medo, como na canção do Fausto (Tenho medo ó medo, Leva tudo é tudo teu, Mas deixa-me ir.)
Vivi quase toda a vida em utopias, perseguindo sonhos. E muitas foram as vezes em que me espalhei.
Mas, ainda assim, recuso-me a viver num mundo onde essas duas palavras não façam sentido.
Por isso, nem que me sinta perdido num túnel, o meu mundo será sempre feito de utopias e de sonhos! Sem medos. Mesmo que os sinta. Sei que um dia, lá do fundo da mais escura galeria da mina, onde tantas vezes me sinto estar, um Anjo com asas brancas de flor do sal, iluminará o meu caminho.
Morrerei no dia em que deixar de acreditar nisso. Não sobrevivi ao que sobrevivi, para agora levar o resto da minha vida descrente disso. Não fui tocado pelo divino, mas passei a gostar também dessa palavra.
E o segredo talvez seja acreditar que num simples passeio à beira mar, uma mulher e um homem possam tocar o divino, o poético; o maior dos silêncios que se encerra num sorriso que se esboça durante uma troca de olhares.
Talvez esteja aí o divino. Talvez seja essa a dimensão do sonho e da utopia!
Talvez seja nisso que acredita o homem que dança só, numa pista de dança, algures nessa noite escura de Lisboa.
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