As horas apertavam-me e as cinzas do dia esmoreciam na escuridão vaga do meu coração vazio.
O arrepio que recordo vinha do murmúrio das velhas folhas ainda suspensas nos ramos. Do rio feroz engrossado pelas chuvas, do ar curvado em vento, que devagar arrefecia o manto morto sobre o caminho. E, atrás do arvoredo do parque, os telhados sombrios da minha cidade.
O pálido mundo já apodrecia, numa brandura silenciosa, no sorriso disfarçado, num golpe de vento, no azul que deslizava com a triste melancolia dos entardeceres de Outono.
Além do parque, a água do rio cantava uma melodia comovente.
Ou assim me pareceu, pois era aquela mulher de negro quem chorava. Sentara-se ao frio no banco do jardim, mostrando a sua grande pena pela vida. Mas exibia a desgraça apenas às aves que passavam no céu, apressadas e alheias, e a mim, involuntariamente, cujos passos as folhas mortas tinham transformado em silêncio, e a mais ninguém, pois que não havia outras almas naquele parque deserto, por qualquer razão que não recordo passados mais de cem anos, talvez alguma ocasião solene ou festejo.
Parei em frente à mulher que chorava e ela parou de chorar. Olhou para mim. Perguntei se precisava de alguma coisa, se a podia ajudar de alguma forma. E ela respondeu que não, cavalheiro, que eu era muito gentil, mas que não se passava nada, uma tolice, apenas. Não a podia ajudar.
Ela tinha os olhos muito vermelhos e resisti a abandoná-la. Mas a mulher (observada mais de perto, tinha um vestido pouco elegante, era do povo, bastante banal de beleza) sorriu-me para me encorajar a prosseguir o meu caminho. Não era nada comigo, enfim, hesitei ainda e depois segui pela vereda de folhas, tentando meditar nos meus problemas filosóficos, nos quais pensava muitas horas.
Ela tinha os olhos muito vermelhos e resisti a abandoná-la. Mas a mulher (observada mais de perto, tinha um vestido pouco elegante, era do povo, bastante banal de beleza) sorriu-me para me encorajar a prosseguir o meu caminho. Não era nada comigo, enfim, hesitei ainda e depois segui pela vereda de folhas, tentando meditar nos meus problemas filosóficos, nos quais pensava muitas horas.
Terá sido no dia seguinte, quando me sentei na mesa do café (como fazia sempre, às 11) que abri o jornal e li, com espanto, a notícia de que uma mulher se atirara ao fim da tarde ao rio que fica ao lado do parque. Uma mulher do povo, vestida de negro, ninguém a pudera salvar, desaparecera de imediato nas águas turbulentas do rio que atravessa a nossa cidade.
Durante uma semana, com o coração pesado, dei os meus passeios pelo parque. Instalara-se o frio e a certa hora, quando as cinzas do dia esmoreciam, não se via vivalma. Foi assim, até que, num desses passeios, julgo que era quinta-feira, ao aproximar-me de um dos bancos do jardim, vi uma mulher sentada. Vestia de preto, mas não chorava.
Aproximei-me. De súbito, percebi que era ela, a mulher que eu perdera. Parei à sua frente.
Ela sorriu para mim, lívida. E sentei-me a seu lado.
Fantasma
Wow! Simplesmente PERFEITO!
ResponderEliminarSou a Tiffany (a filha da Maria Vilela) passa no meu blog, gostava que o lesses.
Beijinhos *