domingo, 21 de novembro de 2010

Não conhecemos suficientemente bem as pessoas de quem gostamos

Um telefonema. Pensa-se primeiro que não passa de cruel engano. Que ele vai aparecer com aquele seu sorriso írónico, a dizer que era exagero, que aparecerá aqui um texto brincalhão a desmentir a notícia. Mas é verdade. Morreu o Pedro Beça Múrias.

O Pedro era daqueles jornalistas que falam pouco e ouvem muito. E que ouvem os outros com genuíno interesse, porque encontram sempre o melhor que cada um tem.
Não conheci os seus defeitos e, para mim, fica a memória de um homem bom. Não era alguém que fingisse a generosidade, mas que a exercia como quem ouve uma boa história.
Noutro país qualquer, o Pedro teria sido um daqueles jornalistas imprescindíveis. Aqui, o seu talento foi desperdiçado, talvez por causa do espírito independente, que os poderosos em portugal consideram ser defeito, mas que me parece ser uma qualidade.

Estas palavras não chegam. O Pedro era mais complexo: tinha inteligência, irreverência, bom senso, memória. E era um homem bom, já o disse. Não encontro melhor maneira de explicar.
Era um optimista e a prova de que a humanidade tende para ser melhor. 
Se o céu existe, deve ter uma salinha de espera. Não será muito grande, porque ali os serviços funcionam bem. Mas imagino o Pedro naquela sala a conversar, ou antes, a ouvir com tempo as outras almas boas e o que elas têm para contar das suas vidas.

Não conhecemos suficientemente bem as pessoas de quem gostamos. Mas o Pedro era diferente, ele parecia ter sempre tempo para os outros. E agora, certamente, tem a eternidade.

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