quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Vargas Llosa


Apesar de Mario Vargas Llosa ser em cada ano o primeiro nome de qualquer lista sensata para esse prémio, parecia que o Nobel da Literatura lhe iria passar ao lado, como aliás aconteceu com tantos grandes escritores com quem a academia sueca embirrou, como por exemplo Jorge Luis Borges ou John dos Passos. Há muitos outros exemplos, ao lado de nomes vencedores que os leitores esqueceram depressa.
Hoje, foi anunciado que Mario Vargas Llosa, de 74 anos, ganhou o prémio Nobel da Literatura de 2010. É uma decisão justa, sobretudo porque os seus livros escritos nos anos 60 mantêm uma juventude e uma actualidade que os temas muito políticos do autor poderiam facilmente ter comprometido.

O autor de romances como Conversa na Catedral, A Guerra no Fim do Mundo, A Festa do Chibo, Lituma nos Andes, Travessuras da Menina Má (os que li dele) é também ensaísta e contista, foi candidato presidencial peruano em 1990, derrotado por um presidente de má memória para o Peru, Alberto Fujimori.
Em muitas entrevistas, Vargas Llosa tem explicado os seus métodos de trabalho, muito precisos e regulares. Além disso, continuou a escrever textos de intervenção política e cívica, comentando os assuntos do mundo, o que não é frequente na literatura.

Vargas Llosa é porventura o autor vivo que melhor retratou a violência política dos nossos dias, a luta inglória pelas utopias, o cinismo das ditaduras e da opressão ideológica. Ele denunciou o totalitarismo da esquerda e da direita e tornou-se mais incómodo por nunca ter visto o mundo a preto e branco. Para mim, é um escritor da liberdade, da imaginação fértil, perito em personagens complexas, com o gosto do comentário social. Tem sentido de humor, subtileza, filigrana técnica e rara compreensão dos derrotados da história e dos mecanismos do poder.
A escrita do prémio nobel de 2010 (cujo próximo livro será publicado aqui) é muitas vezes quase insuportável, devido à violência das situações, a dificuldade da redenção, o sofrimento das suas personagens ou ainda por causa dos excessos devassos. Mas existe uma sensualidade permanente na sua prosa, na paisagem desmesurada, na exaltação humana, nos ímpetos da paixão que ele tão bem retrata.
Mas Héctor Abad explica tudo muito melhor.
Rui Bebiano tem aqui um bom texto e lembra um aspecto por vezes esquecido: o Prémio Nobel da Literatura tem uma componente política e ética.

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