sexta-feira, 25 de março de 2011

Acupunctura das feras



1.

Temos o medo.

Ele amanhece connosco.

A vontade é não ter braços para o receber,

antes afastar o eco de tudo o que está dentro.

Lembramos em defesa o sabor da fruta,

nesse tempo em que os morangos eram ainda pequenos

e as ameixas na árvore se dividiam em inconfundíveis cores,

duas apenas.


2.

Com memórias de amor por quem fomos

levantamos a tarde e o corpo prossegue.

Confesso: Uma vez perdi um amigo por não saber a cor do seu nome.

Não convém atravessar a vida sem olhar


3.

Temos a esperança.

Ela dorme sem abrigo, aí onde consegue estender o coração.

Todas as noites alguém nasce

e a isso chamamos a acupunctura das feras. 
 
 
(Publicado aqui)

1 comentário:

  1. perfectum / directo à emoção / sorvem-se as palavras como gelados numa noite de verão

    ResponderEliminar