segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Consultório do doutor Benji (3)


Dr. Benji. Estivemos as duas numa grande aflição porque os nossos macaquinhos foram viajar. O que nos aconselha a fazer no futuro? (Bicas e Tricas, Lisboa)
Tomei conta dos vossos macaquinhos durante as férias e, deixem-me ser franco, a vossa vida deve ser uma barra pesada. Raramente tenho encontrado seres humanos tão ineptos. Horários de comida baralhados, não trocam a areia, poucas festinhas e um menu à base de comida enlatada. Pescada, nem vê-la. Não se enxergam, passam o tempo a dormir e a filosofar e, pior ainda, têm aquele irritante sentido de humor que me parece ser de longe a pior característica humana. E não se calam, sempre aquele blá-blá-blá monótono. Da próxima vez que eles forem viajar, façam de conta que não deram por nada e tentem esconder o bilhete de avião de volta. Como são muito incompetentes, estes dois macaquinhos embarcam para férias e só lá é que vão perceber que já não podem regressar à vossa casa.

Nunca percebi a dieta humana, dr. Benji. E odeio quando a minha tia me tenta dar daquela comida horrível. Que fazer? (Napoleão, Cascais)
Dadas as suas origens sociais, meu caro, o problema deve ser bastante grave. Pedaços de brioche pela manhã, camarão à tarde e caviar à noite. Lamento o seu pesadelo. A única solução que vislumbro é tentar provar à sua dona, à sua tia, quero dizer, que tudo o que entra pela boca mais tarde ou mais cedo sai pelo rabo. Tente arranjar algum cocó de animais repugnantes aí do jardim e espalhe pela casa, em locais estratégicos, num protesto firme. Como sabe, as classes altas odeiam protestos e têm horror a reivindicações. Mas nunca deixe de ser um gato elitista, caro Napoleão. Baixar o nível seria um erro. Quando a sua dona, perdão, a sua tia, lhe fornecer de novo comida de gato, exija marcas cujo preço seja compatível com o estatuto que merece.

Vi na televisão que existe uma crise financeira e que o desemprego aumentou. Devo preocupar-me? (Lenine, Barreiro)
Não. A situação para os macaquinhos humanos parece ser séria, mas o problema do desemprego não se coloca para os gatos, pela simples razão de que os gatos não trabalham. Há ainda alguns no sector primário (camponeses) que apanham ratos e pequenos pássaros, mas nós, os urbanos, temos uma vida regalada e podemos dedicar-nos à especulação filosófica. O meu amigo é um gato suburbano, com os seus problemas específicos, mas no essencial evite qualquer esforço, exija sempre o melhor e mantenha a ditadura do gatariado aí na sua casa. 

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